No outro dia pensei nas saudades que tenho de mim. A pessoa que apanhava flores e as guardava em livros.
Deve ter havido qualquer coisa que se perdeu para ter deixado de o fazer. E a todo o custo tentei perceber o que teria sido.
Não se perdeu nada! E perdeu-se tudo. Porque a vida mudou. Deixei de ser uma para passar a ser duas. Agora apanho flores com a Eva. Não as guardo em livros mas fazemos coroas e pomos malmequeres atrás das orelhas - na ilusão de que somos fadas ou princesas e de que a mãe-terra é o nosso reino.
Não se perdeu nada! E perdeu-se tudo.
Não importa passar tempo a tentar resgatar as partes de mim que já morreram e que partiram para outra encarnação. Importa celebrar isto de alguma forma. E esta foi a forma que encontrei: voltei a apanhar flores e a guardá-las em livros :) Agora, consciente de que isso pode deixar de acontecer se não estiver atenta. Que cultivar a simplicidade exige presença. Não deixar ir a essência das coisas mesmo que elas já não estejam lá. Neste caso, não perder a minha essência.
Há um ano atrás sentia-me muito abalada por não conseguir encontrar magia em parte nenhuma. Isto mexeu muito comigo porque sempre foi algo natural para mim. Mas no fundo a magia não é uma coisa, nem um lugar, nem uma pessoa. É todo um movimento. Um epicentro.
A magia é lembrar-me dos meus sonhos e escrever sobre eles. Chorar numa aula de yoga. Ter um orgasmo (ou vários). Beber um copo e sentir o corpo todo dormente. Dançar. Abraçar um amigo durante mais de 5 segundos. Vibrar com os breves triunfos do quotidiano. Ou seja, apanhar flores e guardá-las num livro. Não me esquecer de fazer uma festa por cada coisa boa que disse ou que fiz. Ser sincera sem ferir os outros. Dizer adeus quando chegou o momento. Agradecer a quem está e a quem fica mesmo quando tudo está muito mau. Pôr de lado aquela vontade de fazer coisas feias quando tenho o ego magoado. E não me recriminar tanto se o fizer.
Só não vejo magia quando estou em pedaços. E isso é legítimo. Eu respeito-me por isso. Por me permitir viver os meus pedaços e de nem sempre me sentir inteira. O desafio é: também nesses momentos perceber que estar Aqui não é uma coisa minha. É algo emprestado que eu tenho de preservar e cuidar e devolver em bom estado. Pelo meio acontece tudo e mais alguma coisa - está tudo bem! Mãos no peito porque é preciso acolher quem sou Sempre! Essa é a única forma de estar em paz também com tudo o resto.
Mas não me quero esquecer do verdadeiro motivo que me trouxe aqui hoje. Eu preciso de me lembrar de quem sou e da magia que tenho em todos os momentos... se estiver atenta.
Ficar atenta. Porque a vida está a torcer por mim mesmo quando me esqueço de torcer por ela.
Ficar atenta. Porque às vezes é preciso pedir ajuda e não levar nada longe de mais é fundamental.
Ficar atenta. Porque a magia existe.
Para mim não tem nada a ver com tirar coelhos da cartola. É mesmo só aquela sensação que tenho quando vejo um arco-íris ou quando abraço a minha filha e cheiro o cabelo dela e dou graças por ela existir e estar segura. Aquela sensação de frio na barriga quando sei que qualquer coisa boa está à minha espera... Porque está mesmo!
A magia é também uma confiança inabalável no mistério da vida. Eu é que já não me lembrava.
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