#Nona semana em Inglaterra
Celebro-me todos os dias, sim!
Por ser mulher, por ser quem sou, por Ser.
E celebro os homens, também. Por razões diferentes.
Sinto que é preciso nutrir com cuidado esta ferida que existe entre o masculino e o feminino. Entender que há mágoas e zangas e violências que persistem e não estão esquecidas. Que os privilégios são bons apenas para quem os tem, se não forem usados para construir um espaço de respeito pelo o outro, de justiça, de igualdade e de liberdade.
Fico muitas vezes zangada quando me dou conta dos clichés pequeninos do dia-a-dia em que quase todos caÃmos no que diz respeito a este assunto da igualdade de género. A pergunta "ele ajuda-te?" pressupõe que na realidade sou eu que faço. Oferecer descontos em detergentes e produtos de beleza no dia internacional da mulher parece quase uma piada fácil. E usar as mulheres para representar uma ideia de superficial ou até menos inteligente, na minha visão, nunca teve sentido mas, nos dias que correm, por estarmos todos cada vez mais informados, ainda tem menos. No entanto, claro, isto são questões de "1º mundo".
A reflexão que faço é: porquê ficar incomodado quando se fala de feminismo? Porquê ficar incomodado quando se fala de criminalizar o assédio sexual usando a expressão piropo? Porquê ficar incomodado por existir um dia em que a Mulher é celebrada e o Homem não? Não será o homem também celebrado todas vezes que a mulher se aproxima mais de ter direitos semelhantes aos seus? Será um homem feminista algo assim tão descabido, tendo em conta o significado da palavra e da história por trás dela? Enfim, não será o dia da mulher também o dia do homem, se eles e elas assim o desejarem?
No dia 8 de Março eu celebro o facto de ter nascido mulher porque essa é a minha condição e não me faria sentido outra. Mas acima disso, celebro os direitos que tenho hoje, os tais privilégios que me permitem escrever aqui livremente, votar, divorciar-me, ter um trabalho e ter o poder pessoal de decidir sobre a minha vida.
De qualquer forma, lembro-me daquilo que ainda torna os homens e as mulheres desiguais no que diz respeito a direitos. Coisas que nada têm a ver com biologia. Lembro-me das violências, dos casamentos forçados, das mutilações genitais, da proibição do prazer e da possibilidade de escolher coisas pequeninas... coisas simples, como: poder dizer que não quando isso é o que se deseja, poder discutir um pensamento ou uma ideia sem medos, poder ser-se dono do seu próprio corpo.
Eu não me esqueço de que sou mulher nos outros dias do ano. Não conseguiria nem poderia fazê-lo. Nem me esqueço do que se passa à minha volta. Como também não esqueço de que nasci e estou viva. Mas celebro este dia como celebro o meu aniversário. Com alegria por existir e por lembrar algo que importa sempre.
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#Ninth week in UK
Yes! I celebrate myself everyday!
Because I am a woman. Because I am who I am. Just because I am a being.
And I also celebrate men for other different reasons.
I feel that it's important to nurture carefully this wound that exists between feminine and masculine.
Understand that violence and anger and heartaches that still persist and are not forgotten. That the privileges are only good for those who have it if they're not being used to build a space of respect for the other, of justice, equality and freedom.
I feel so angry sometimes when I realize the small cliches of the daily life that almost everyone makes without even notice when it comes to gender equality. The question "does he help you with the cleaning?" implies that in reality I am the one that cleans the house. Offering discounts on cleaning products and beauty products on international women's day seems almost a joke. And using women to represent an idea of superficial or less clever has always been in my opinion completely unreasonable but today with all the information that is available is even more. However these are of course matters of "first world".
The reflection I make is: why be upset when one talks about feminism? Why be upset when one talks about criminalize sexual harassment? Why be upset because there is a day when women are celebrates and men not? Isn't the men celebrated every time a woman gets closer to have rights similar to his? Is is a feminist men something so strange when we think about the meaning of the word and all the history behind it? Ultimately, isn't the women's day also the men's day if they both wanted to be that way?
On the 8 of March I celebrate the fact I was born a woman because that is my condition and would make sense to be other way. But above that I celebrate the rights I have today. Those privileges that allow me to write in here freely, to vote, to get divorce, to have a job and to have the personal power to decide over my life.
Anyways, I remember of what makes men and women uneven in this matter of rights. Things that have nothing to do with biology. I remember the violence, the forced marriages, genital mutilations, how pleasure is still prohibited, the impossibility to choose little things... small things like: being able to say no if thats what one wants, being able to speak ones minds without any concerns of fears, being able to own ones own body .
I don't forget I am a woman the rest of the year. I wouldn't be able to do it. And I also don't forget what goes on around me. The same way I don't forget I was born and I am alive. But I celebrate this day like I celebrate my birthday. With joy because I exist and because I remember something that is important all the time.