Há cerca de 2 anos tive uma conversa com uma amiga. A conversa deixou-me tensa e zangada mas na época não consegui perceber exactamente porquê.
Um dos temas que abordámos era o da "fantasia" como escape. A fantasia que é fruto da expectativa, da ansiedade de se querer viver algo mesmo que isso esteja desconectado da realidade. A fantasia que extrapola o possÃvel. A fantasia que se desmancha e que no fundo nunca passou de uma ilusão.
A verdade é que muitas vezes é difÃcil entender o que é de facto a fantasia até esta se desmanchar - são os tais banhos de água fria.
No entanto, tenho percebido - apesar da dita conversa - que não me importo nada de acreditar em coisas que estão além da realidade e do presente porque muitas vezes é aà que a minha fé assenta. No improvável. No desconhecido. No que ainda não é - quem sabe nunca irá ser.
Querer algo. Ou ter a expectativa de que algo aconteça é para mim um motor. É o que tantas vezes catalisa a mudança, o trabalho ou o meu compromisso com algo ou alguém.
Às vezes a Eva ralha porque gostava que as coisas fossem de uma determinada forma. Digo-lhe para ela confiar e ela, invariavelmente, no meio da sua frustração, responde-me que não.
A minha resposta é então só uma: na vida ou temos fé ou temos um plano.
Não sei se é mesmo assim. Também estou a descobrir. Mas percebo que, ter um plano ou ter fé são ambos uma fantasia na medida em que nenhum dos dois ainda se concretizou... No entanto, não sabendo de facto nada, acho que é preciso acreditar que tudo é sempre possÃvel.
"O sonho comanda a vida"? Para mim, sim! Tanto quanto tudo o resto. É essa a base da esperança.
Olhar o futuro. Imaginá-lo. Não me retira do presente. Porque enquanto respiro estou presente. E o futuro desenha-se mesmo quando não perdemos tempo a sonhá-lo. Mas eu acredito que é preciso lembrar que, às vezes, fantasia, é mesmo só uma visão do que pode de facto acontecer. Isso é como uma candeia que me acende o caminho.
Continuo a preferir um sonho desmanchado, uma caça ao gambuzino, uma fantasia, do que uma vida sem mitos, sem coisas impossÃveis, sem pai natal :)