Neste tempo de transformação profunda as relações mais do que nunca ocupam um enorme espaço nas nossas vidas. Seja porque estamos fechados em casa com os nossos companheiros e filhos, seja porque estamos mais próximos dos nossos pais ou porque estamos sozinhos e de uma forma ou de outra temos de aprender a relacionarmo-nos connosco e com os outros de uma nova forma.
Hoje, nas minhas leituras matinais, encontrei uma resposta interessante para as minhas ansiedades. Talvez tudo isto possa ser natural para ti que me estás a ler mas para mim a relação é um ser vivo complexo. Por isso, aproveito para partilhar esta descoberta, na esperança que te traga mais recursos e possibilidades assim como uma maior aceitação deste momento — como me trouxe a mim.
"A fantasia básica que cria emoções voláteis é a crença na existência de apenas um lado em todas as coisas, a busca do positivo sem o negativo ou do prazer sem a dor."
Vivi algumas relações que estavam suportadas por deslumbramento e estas acabaram de forma fugaz e com muita dor — proporcional às minhas expectativas, em boa verdade.
Hoje em dia, aqui por casa, vamos equilibrando imperfeitamente a expectativa com a aceitação das diferenças. E na maioria das vezes é bem difícil porque observo que ambos queremos que os valores do outro sejam os nossos e que na maioria dos casos, ambos gostamos de ter razão e de levar a nossa ideia avante. No entanto, temos algo importante em comum: queremos cultivar a "produtividade interior" que se traduz na presença, em ver as coisas como elas são — ir além da superfície.
"Os valores são definidos pelo que é realmente importante para si, por aquilo a que você dedica o seu tempo, a sua energia e o seu dinheiro."
Acreditando que a diferença cria equilíbrio, é interessante entender que o ponto central da relação e do amor pode viver exactamente nessas diferenças. É aí que se podem encontrar os maiores desafios e também as maiores possibilidades de crescimento. As relações ideais talvez não sejam necessariamente confortáveis porque nos desafiam a olhar para as coisas que ainda não fomos capazes de amar — nem em nós mesmos nem no outro. Isto, como creio ser óbvio, não quer dizer que tenhamos de ir ao limite daquilo que é tolerável...
Trago este tema também porque neste momento de isolamento, preocupam-me as relações de violência em que uma das partes se vê totalmente sem saída ou em que as crianças estão expostas a um desrespeito profundo pela sua integridade física e direitos primordiais sem o escape da escola e sem acompanhamento e afecto de professores ou outras entidades.
Numa relação em que existe respeito mútuo pela vontade e pelo corpo do outro pode no entanto haver momentos em que expressamos o nosso amor através dos nossos valores, confiando que cada uma das partes está atenta ao que precisa e que isso resultará em desafios. Mas que se não for desta forma, isso eventualmente resultará em ressentimento.
"Independentemente do quanto tente ser altruísta, durante metade do tempo você estará concentrado nos seus próprios valores. Você tem a sua própria vida e, se a tentar sacrificar por outra pessoa, essa pessoa tomá-lo-á como garantido e diminuirá o seu valor, porque é isso que você está a fazer consigo próprio. Isto significa que vai desafiar e trair os outros e que às vezes se vai mostrar ressentido em relação a eles, e que eles vão fazer o mesmo em relação a si. Isso é normal. Se não compreender isso, sentir-se-á traído sempre que escolher respeitar os valores da outra pessoa mais do que os seus próprios valores. Pode pensar que o amor acabou quando isso acontecer, mas a verdade é que o seu amor acaba de começar, porque o prazer e a dor juntos formam o verdadeiro amor. (...) A evolução máxima acontece quando ocorre um equilíbrio entre apoio e desafio, e, quando derem isso um ao outro, terão uma relação de amor satisfatória. Se não o fizerem, irão aprender uma lição."
Que lições estás a tirar para a tua relação e para ti mesmo durante esta quarentena?