Ultimamente tenho sentido que é possível sentir amor sem acrescentar nem tirar nada.
Na prática de simplesmente amar, acontece algo incrível: recebe-se mesmo qualquer coisa de volta. Não de uma forma concreta. Não no campo do fazer ou da acção. Não necessariamente desembocando em algo expressivo como uma relação romântica. Mas como um preenchimento interno, celular, orgânico. Que fica a reverberar em tudo o que faço, pelas pessoas de quem gosto, sem expectativas nem desassossego.
Não tenho dúvidas de que sou amada por muita gente e de que serei amada por muitas pessoas ao longo da minha vida. Não estou dependente da validação exterior ou de reciprocidade para sentir as diferentes possibilidades do amor.
A beleza disto é precisamente esta: aprender a amar sem ter o desejo constante de estar em relação libertou-me de um peso gigante. Libertou-me do constante ruído mental. De uma insatisfação disfarçada de desejo. Da armadilha da expectativa.
A fantasia também cabe dentro da realidade. Mas não precisa de se transformar nela.
Quero continuar a dar o melhor de mim mesmo correndo o risco de perder tudo o que ofereço - já aconteceu, mais do que uma vez. E não só sobrevivi, como prosperei.
Creio que isto se traduz um pouco no “poder da desvinculação” de que fala o Stutz - ser capaz de dizer em silêncio: “I’m willing to loose everything.” E nesse processo perceber que a minha integridade não depende do que recebo de volta. Que nada é de facto permanente. Que é possível querer com toda a minha energia uma coisa e ainda assim ser capaz de a libertar; de me despojar de tudo o que quero mesmo continuando a assumir o trabalho que tiver de ser feito.
Para mim, neste momento, este é o poder criador do amor e da gratidão.
“O que estamos aqui a fazer é entregar-nos a algo que não compreendemos por completo.
Mas o que quer que exista por aí quer estar ligado a toda a gente.”