the hands show the way of the heart

A Verdade

| On
September 06, 2021

Penso muito sobre a Verdade. E falo sobre ela também. Nesse processo, confesso agora: ajo com pouca verdade. No que é realmente importante ou sério, escondo-me e repito o que sempre fiz para evitar qualquer tipo de confronto ou constrangimento maior.


Talvez algumas pessoas achem que só faço aquilo que quero. É verdade que sempre foi assim um bocadinho. Ou seja, sempre estive muito atenta à minha bússola interna e com mais ou menos apoio dos outros, fui seguindo os caminhos que me faziam sentido. Mas um bocadinho não é Tudo. E sendo assim, sinto que ainda estou a viver pela metade.


Há coisas que me preocupam imensamente. Ressentimentos que alimento e que me consomem. Ansiedades que me limitam. Lugares comuns e formas de pensar, agir, achares, que quero deixar ir quanto antes. Tudo isto faz-me sentir uma urgência. Mas até essa urgência é uma armadilha.


Nos últimos dias senti coisas que já senti muitas vezes mas, porque trazem sofrimento, tento sempre camuflar. Arranjo subterfúgios para escapar e sou exímia nisso. Nesse fazer de conta. No fim, como diz a Marta Gautier, "paga-se a factura."


Há um exercício a que preciso de me render constantemente que é o de ser honesta comigo. Não fazer julgamentos do género: estás a ser preguiçosa, atrasas-te sempre, és tão boa amiga... Ou seja, atribuir uma forma qualquer - boa ou má - às coisas. Sinto que é uma perda de tempo. Ser honesta é não ter medo do que sinto ou do que os outros vão sentir. É não Tentar ser seja o que for. Despojar-me de "Quereres".


Ando há alguns anos a trocar de pele. Fui enchendo a minha vida de afazeres e de coisas que me foram empurrando para a frente. E muita coisa caiu. Chorei muito e senti muitos vazios impossíveis de preencher. Achei que queria morrer. Bati no fundo e ganhei impulso mas muitas vezes isso não foi suficiente para sair desses lugares de sombra. O caminho era e é sempre a Verdade. A essência.


A sensação de não ter tempo é avassaladora e faz-me questionar sobre quais são os meus vícios: o stress, o estar ocupada, o "estar sempre lá" para depois me sentir melhor comigo porque fiz tudo bem e fui tão boa pessoa. São camadas e camadas de coisas que não me servem para nada. Mas para cada momento de clarividência há uma estratégia para dar a volta e fazer de conta.


Tenho feito um exercício ultimamente que é escrever sobre coisas que me metem vergonha. Porque percebi que esta vergonha estava tão dentro de mim que até escrever sobre ela me metia medo. Ninguém lê aquilo que escrevo mas algures sentia medo "do que é a minha filha vai pensar quando crescer" e "se eu morro entretanto e alguém descobre estas coisas"... ao observar isto percebi como é fácil contar histórias a mim mesma até nos momentos em que acho que estou a abrir completamente o coração.


Não tenho receitas para isto de se ser realmente verdadeiro. Acho que é uma escuta que cada um tem que fazer de si mesmo. Enfrentando a escuridão nos momentos de escuridão porque só esse abraçar Do Que É vai abrir espaço. Mas partilhar isto aqui é para mim um caminho.

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