Acabo sempre por ir ao encontro das coisas e das pessoas que são como eu. Que põem em palavras coisas que sinto. Que se vestem como eu gostava de me vestir. Que dão abraços melhores do que eu. Que elevam, talvez, aquilo que no fundo já sou.
Tenho a sensação que somos todos um bocadinho assim.
Porque, é fácil encontrar justificações para continuarmos a ser de um determinado jeito. Há informação que chegue. E sempre alguém que acredita no que já acreditamos.
Houve alturas em que achei que o que realmente me faria mais rica era rodear-me de pessoas diferentes de mim - para poder ter acesso a mais ângulos. Mas com o tempo comecei a sentir-me desconfortável. E a perceber que isso era algo que me pesava e que me impossibilitava de investir verdadeiramente em quem eu sou.
Num esforço constante para caber, adaptar-me e crescer, num ambiente que, no fundo, era inóspito - como plantas antagónicas que em conjunto se inibem mutuamente.
Por exemplo, no outro dia estava com uma amiga que dizia "a vida é muita dura!". E fiquei a pensar se acredito nisso. As minhas ideias são minhas - têm a ver com os significados que retirei das experiências que tive.
(Tal como as dela.)
Acho importante pensar sobre o que retiro realmente das experiências dos outros. Não entrando em fusão com isso. Construindo dentro de mim um limite qualquer que não me separe mas também não me iniba de saber no que acredito de facto.
Parece-me que estamos a viver uma época em que tudo é extremamente pessoal. Identificamo-nos com certas coisas e temos necessidade de criticar outras porque de alguma forma nos ofendem - mesmo que nunca tenhamos sequer conhecido a pessoa em questão. Fico incomodada com isto e penso que no fundo não sou assim tão diferente destas pessoas. Percebo que a falta de empatia me ofende. E se, por um lado, isto me dá vontade de rir. Por outro, é um assunto sério. É algo que preciso de olhar.
Afinal, onde está a minha empatia pelos não empáticos? E será que existem pessoas não empáticas? Ou será que simplesmente não sentem empatia pelas mesmas coisas que eu?
É assim para qualquer característica que temos, parece-me.
A maior arrogância é achar que sou melhor que o outro quando no fundo ele é só diferente de mim.
Essa auscultação tem sido ultimamente o meu tema de reflexão. A consciência do que sou. Não através dos espelhos que o outro me dá mas através daquilo que são as armadilhas de achar que a minha forma é a forma certa.
É impossível evitar a convivência com pessoas que não são parecidas comigo, que acreditam noutras coisas ou que têm outra forma de gerir os mesmos assuntos. Não creio que isso seja um problema ou uma coisa má. Mas às tantas tenho percebido que o grande truque é restringir o meu diálogo. Aceitar apenas o que a pessoa está a trazer com ela e não impor ao outro a minha perspectiva. Se tiver necessidade de partilhar algo, que não seja a partir de um lugar de superioridade ou dominância. É difícil ter esta humildade quando tenho ideias tão fortes sobre algumas coisas. Mas é este o caminho que quero fazer. Menos quereres. Menos certezas. Menos opiniões. Quero sim, ser mais responsável com as minhas "verdades". E nesse percurso, ir reconhecendo sempre que não sei nada. Só assim posso realmente compreender o outro.
que bom tem sido voltar a ler-te! saudades :)
ReplyDeleteobrigada querido João. saudades também. abraços!
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