O que se entende por abundância criou na verdade uma escassez - temos tanta coisa que para nós não vale nada que acho importante pensar se temos de facto alguma coisa.
No design, muitas vezes, o tempo de vida de um produto é limitado. Às vezes é construído para ser assim. Ou porque deixa de funcionar passado pouco tempo ou porque o novo é a tendência dominante.
A democratização dos bens e dos serviços construiu uma oferta de coisas que se consome a si mesma. A "acessibilidade" e a sensação aparente de que não é preciso usar muitos recursos para se ter muita coisa constrói um vazio - acabamos por perceber rapidamente que o que é necessário já não é, que pode ser substituído, que está ultrapassado ou que não é bom porque é "velho".
Eu, no entanto, tenho sentido cada vez mais que o que é realmente novo é precisamente o velho. Que o que me interessa é perceber o que funciona no passado. Preservar e cuidar do que já existe. Tal como está ou transformando-o.
O que me inspira nos objectos é a sua capacidade de viver no tempo. Porque com as coisas, tal como com as pessoas, são precisos compromissos. E isso faz falta.
Por essa razão, pego no desperdício têxtil de marcas que gentilmente colaboram comigo e transformo-os noutras coisas. Coisas que por terem sido feitas com amor, usando ferramentas ancestrais que muitas vezes nem sequer precisam de electricidade - como o tear manual, ultrapassam qualquer ideia de moda e vivem por si próprias.
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