the hands show the way of the heart

Look both ways

| On
September 07, 2021


Em jeito de diário, 


Tenho andado muita envolvida comigo. Não sei se é bom ou mau mas às tantas é apenas aquilo que é. 


Para o ano faço 40 anos e já ando a antecipar de alguma forma esse momento. Entre as minhas queixas, neuroses, irritações, coisas que me chateiam ou preocupam e tudo o resto que me traz paz, fico aí no meio, a tentar achar tudo espantoso porque se calhar é mesmo, eu é que ainda não cheguei lá.


Há um tempo qualquer para cada coisa. Um tempo que se ocupa de si sem que eu controle nada. Esta percepção colocou-me em contacto com uma liberdade que não conhecia. E então percebi que só me resta render-me a cada momento sem querer moldá-lo às ideias que tenha sobre ele. Não quero dizer com isto que já não me importo com nada. Quero dizer que os caminhos têm que ser feitos dentro, antes de poderem ser percorridos fora.


Portanto, agora sou uma exploradora, caminhante virtual, descobridora de percursos invisíveis. 


Nunca como antes dependi tanto de mim mesma. E isto é um susto. Mas nesse medo ou na consciência desse medo vão-se abrindo os tais caminhos. Deixo que me atravessem uma série de coisas que antigamente me esforçava imenso para mudar. Rendo-me (lá está!)!


Sempre tive muita força e isso por qualquer razão incapacitou-me de uma série de coisas. Achei que podia empurrar tudo com a barriga, que estava safa de melodramas, que tinha sempre escolhas e que nada era de facto irreversível. Enganei-me um bocadinho nalgumas coisas e por outro lado as outras pessoas acharam sempre que essa força me tornava destemida e invencível - o que não é verdade. 


Do outro lado da força existe uma sensibilidade muito grande que me destrona. Fisicamente, sinto-me muitas vezes ir ao chão. Mas é nesse ir ao chão que está uma grande beleza. (Demorei anos a aprender isto.) É nesse ir ao chão que sigo em direção às profundezas das coisas. 


Há sempre um medo muito grande em permitir-me sentir os vazios. Esforço-me muito. A todo o custo, para continuar a resolver tudo e a chegar a todo o lado porque uma parte de mim ainda está agarrada à crença de que não se consegue nada sem luta. Não é verdade. Na ausência de resistência constrói-se uma leveza. E eu busco isso.


Tenho metas e sonhos e coisas que gostava de concretizar mas cada vez mais vou sentido que é no que faço agora que está a maior poesia. Já não quero dizer "um dia de cada vez". Acho que prefiro "um minuto de cada vez", "uma hora de cada vez". Um dia é muito tempo. Porque essas ideias dão-me esperança e alegria mas também me sufocam. Porque sinto que se não chegar lá é porque devo ter falhado qualquer coisa. 


Vou-me então despojando destes artefactos emocionais que andei a cultivar toda a vida. Agarro-me a coisa nenhuma - como se estivesse no mar. E deixo que a vida me encontre. 


Não quero perseguir nada. Estou muito cansada de quem sou nesse lugar de constante apropriação de tudo o que me acontece ou deixa de acontecer. 


A única missão que tenho neste momento é: aprender a confiar.

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